Com humor, escocês dá rasteira em golpistas da internetRobert Servant é um escocês sexagenário que, depois de ganhar seu computador na rifa de um clube de boliche, passou a se corresponder com spammers -- sim, trocar mensagens com os propagadores de lixo eletrônico que todos querem evitar. Após meses vivendo essa experiência on-line, o limpador de janelas decidiu publicar um livro divulgando esses diálogos insólitos. Mas antes de dar mais detalhes sobre Bob e esse seu estranho hobby de conversar com o inimigo, é importante deixar algo claro: ele não existe.
Tanto o livro "Delete this at your peril" ("Delete por sua conta e risco", em tradução livre) quanto o personagem -- que, antes de se dedicar à limpeza de janelas, vendia cheeseburgueres preparados dentro de vans -- são criações do jornalista escocês e autor de livros Neil Forsyth, 30. Ele conta que começou a responder as mensagens enviadas por spammers como hobby, adotado sempre que bebia algumas cervejas, até que a brincadeira ganhou força e se transformou em livro.
A publicação, como Forsyth explica, mostra a comunicação "anárquica" entre Bob e pessoas que realmente tentam enganar os internautas. Enquanto os golpistas oferecem milhões de dólares de origem africana e outras iscas para os interessados em enriquecimento rápido, o fictício Bob sempre tem uma contra-proposta mirabolante. Algumas dessas trocas de e-mail chegaram a durar quatro meses: elas terminavam quando o escocês turrão pulava fora ou quando os falsários desistiam dele.
O livro foi lançado no Reino Unido em dezembro de 2007 e, no começo de junho, passou a ser vendido na Amazon dos Estados Unidos por cerca de US$ 10. Ainda não há previsão de publicação em português, mas o autor não descarta essa possibilidade. "Estou muito contente com o fato de Bob ser reconhecido em outros países e aguardo o contato de editoras interessadas", disse ao G1 Forsyth que, assim como os spammers, tenta vender seu peixe.
Herança nigerianaNo diálogo favorito de Forsyth (leia o conteúdo completo aqui, em inglês), um homem tenta aplicar o golpe da herança nigeriana. Seu rico pai, líder de uma tribo, morreu e o filho precisa de uma conta bancária para depositar toda a fortuna -- por acaso, ele pede ajuda para o “sortudo” Bob. Em troca do favor, o novo sócio fica com 20% do valor total se contribuir antecipadamente com 5% para despesas em geral. A fraude de antecipação de pagamento se concentra justamente na obtenção dessa porcentagem menor.
Em resposta à mensagem, Bob Servant diz aceitar o acordo desde que fique com 30% da fortuna, "nem um centavo a menos". E dá-se então a largada para a insólita relação. Enquanto o spammer tenta insistentemente obter dados pessoais e financeiros da vítima, Bob faz todo tipo de exigência: passa a demandar 40% da fortuna e ainda solicita que o pagamento seja feito em animais vivos, para fugir das taxas. Ele pede, por exemplo, quatro leões, dois leopardos e um jacaré.
Solícito, o spammer concorda com tudo e se mostra empenhado para atender às demandas. Ele jura, inclusive, ter encontrado o leão falante mencionado durante as negociações com Bob. "O pobre coitado deve ter até hoje em seu jardim uma coleção de leões que falam inglês", satirizou Forsyth, que classifica sua obra como "a reunião de diversos diálogos absurdos".
Personalidade O personagem -- criado apenas como uma brincadeira, e não como um alerta para o problema do spam -- evoluiu. Hoje, além de um endereço de e-mail, ele tem seu próprio site, um blog, uma newsletter, uma conta no Facebook, uma no MySpace e uma personalidade muito bem definida.
Me inspirei em um senhor que conheci. Eu realmente gostava da idéia de ele ser um velho com personalidade de criança: muito empolgado, mas resistente a cair nos golpes e às vezes um pouco mimado", disse o autor do livro, que atualmente escreve um romance. Seu outro título publicado, "Other People's Money", conta a história de um golpista de cartões de crédito e está sendo transformado em filme pelo mesmo produtor de "O paciente inglês".
Ao G1, ele admitiu ter certo receio de satirizar os spammers, considerando que esses golpistas podem ser perigosos. Esse também foi um motivo que o levou a criar o personagem, antes de ele se revelar como o verdadeiro autor do livro. "Não acho que esse tipo de pessoa [spammer] leia publicações de humor. Mas, de qualquer forma, troquei seus nomes para eles não fossem identificados”, explicou o escocês que, durante sua experiência, foi ignorado por diversos golpistas. "Muitos não me levaram a sério."
Fonte: G1 Tecnologia